quarta-feira, 21 de maio de 2008

"Este inferno de amar", Almeida Garrett

"Amor", Gustav Klimt, 1895




Este inferno de amar – como eu amo!-
Quem mo pôs aqui n’alma...quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele olhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra um dia formoso.
Eu passei...dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – não no sei:
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett, Folhas Caídas

Sem comentários: