quarta-feira, 18 de junho de 2008

"Everybody Wants to rule the World", Tears for Fears



Welcome to your life
There's no turning back
Even while we sleep
We will find you
Acting on your best behaviour
Turn your back on mother nature
Everybody wants to rule the world

It's my own design
It's my own remorse
Help me to decide
Help me make the most
Of freedom and of pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world

There's a room where the light won't find you
Holding hands while the walls come tumbling down
When they do I'll be right behind you

So glad we've almost made it
So sad they had to fade it
Everybody wants to rule the world

I can't stand this indecision
Married with a lack of vision
Everybody wants to rule the world
Say that you'll never never never never need it
One headline why believe it ?
Everybody wants to rule the world

All for freedom and for pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world

domingo, 8 de junho de 2008

"Dia de Anos", João de Deus



"Conspiração Nocturna no Jardim do Duque da Terceira", Carlos Carreiro, 2006




Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!

Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!

João de Deus

sábado, 7 de junho de 2008

"Perdidamente", Luís Represas




"Ser Poeta" de Florbela Espanca é imorredoiro...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

"Presente", Affonso Romano de Sant'Anna



"Pequena Fiandeira Napolitana", António Ramalho, 1877





O que te dar neste dia?

O que te daria eu ontem
quando não te conhecia?

E amanhã, o que te darei
se hoje não te dei
o que devia?

O que te dou é apenas
Sombra do que queria.
Dou-te Prosa, e o que desejo
era dar-te Poesia.


Affonso Romano de Sant’Anna

domingo, 1 de junho de 2008

"Starry, starry night", Don Mclean




Starry, starry night.
Paint your palette blue and grey,
Look out on a summer's day,
With eyes that know the darkness in my soul.
Shadows on the hills,
Sketch the trees and the daffodils,
Catch the breeze and the winter chills,
In colors on the snowy linen land.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

Starry, starry night.
Flaming flowers that brightly blaze,
Swirling clouds in violet haze,
Reflect in Vincent's eyes of china blue.
Colors changing hue, morning field of amber grain,
Weathered faces lined in pain,
Are soothed beneath the artist's loving hand.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

For they could not love you,
But still your love was true.
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night,
You took your life, as lovers often do.
But I could have told you, Vincent,
This world was never meant for one
As beautiful as you.

Starry, starry night.
Portraits hung in empty halls,
Frameless head on nameless walls,
With eyes that watch the world and can't forget.
Like the strangers that you've met,
The ragged men in the ragged clothes,
The silver thorn of bloody rose,
Lie crushed and broken on the virgin snow.

Now I think I know what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they're not listening still.
Perhaps they never will...



Quando a pintura genial emociona uma alma sensível...

"Free Hugs"-Campanha australiana




I don't mind where you come from
As long as you come to me
I don't like illusions I can't see
Them clearly

I don't care no I wouldn't dare
To fix the twist in you
You've shown me eventually
What you'll do

I don't mind...
I don't care...
As long as you're here

Go ahead tell me you'll leave again
You'll just come back running
Holding your scarred heart in hand
It's all the same
And I'll take you for who you are
If you take me for everything
Do it all over again
It's all the same

Hours slide and days go by
Till you decide to come

However long you stay
Is all that I am
I don't mind...
I don't care...
As long as you're here

Go ahead tell me you'll leave again
You'll just come back running
Holding your scarred heart in hand
It's all the same
And I'll take you for who you are
If you take me for everything
Do it all over again
It's always the same

Go ahead say it you're leaving
You'll just come back running
Holding your scarred heart in hand
It's all the same
And I'll take you for who you are
If you take me for everything
Do it all over again
It's all the same

"La Promenade", Pierre-Auguste Renoir, 1870



quinta-feira, 29 de maio de 2008

Espera

"Madonna of the Lilies", Alphonse Mucha, 1905








Aqui onde o exílio
dói como agulhas fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.



Eugénio de Andrade

terça-feira, 27 de maio de 2008

"Praia de Cascais", D. Carlos de Bragança, 1906




Lindo!...

"Lua Adversa", Cecília Meireles

Tenho fases, como a lua
fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E toda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu...

Cecília Meireles

"Sinfonia Azul", António Carneiro, 1910




Introspecção ao lusco-fusco...

"O Limpa-Palavras", Álvaro Magalhães

Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.

A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.

No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.

A palavra obrigado agradece-me.
As outras, não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.

Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
A palavra barco ou a palavra amor.

Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.


Álvaro Magalhães, O Limpa Palavras e Outros Poemas

"Casamento Perfumado", Popular

"Dar nomes às Flores", Bob Byerley





Queria certa donzela
de olfacto bem apurado
que o seu casamento fosse
de sempre o mais perfumado.

Seu nome era Rosa Branca
Cravo Vermelho seu noivo
madrinha, D. Açucena,
padrinho, o senhor D. Goivo.

Sua grinalda enfeitou
com folhas de laranjeira
e na sua mão levou
um ramo de erva cidreira.

Seus pagens, os manjericos;
Violetas, as suas aias,
seu pai, o senhor Junquilho
Madre Silva em lindas saias.

Veio dizer a cozinheira
que ia tudo perfumar:
“trago salsa e hortelã
para pôr no seu jantar.

Que belo aroma dão
a canela e o coco
para perfumar os bolos
eu vou juntar vinho do Porto.

A bela erva-luísa
veio para servir o chá
como é toda perfumada
que belo jeito me dá.

Diga-me lá, D. Rosa,
se mais perfumes deseja.
Haverá um casamento
Que mais perfumado seja?”


Popular

domingo, 25 de maio de 2008

"Sísifo", Miguel Torga e Ticiano

"Sísifo", Ticiano, 1549





Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga, Obra Poética



*Sísifo: filho de Éolo e Rei de Corinto, temido pelas suas crueldades e rapinas. Foi condenado, depois de morrer, a rolar nos infernos uma pedra enorme até ao alto de uma montanha, donde ela tornava a cair eternamente.




"A Memória", René Magritte, 1948


"Esparsa - Ao desconcerto do mundo", Luís Vaz de Camões

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.


Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que só pera mim
Anda o mundo concertado.

Luís de Camões

"O Baloiço", Jean-Honoré Fragonard, 1766


"Liberdade", Fernando Pessoa


Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira a literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa, Obras Completas

"Romeu e Julieta", Sir Frank Dicksee, 1884


"Senhora, partem tão tristes", João Roiz de Castelo Branco

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora d’esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo Branco
(séc. XV)



Sublime!...