terça-feira, 27 de maio de 2008
"Lua Adversa", Cecília Meireles
Tenho fases, como a lua
fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E toda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles
fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E toda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles
Etiquetas:
... Poesia
"O Limpa-Palavras", Álvaro Magalhães
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras, não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
A palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
Álvaro Magalhães, O Limpa Palavras e Outros Poemas
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras, não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
A palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
Álvaro Magalhães, O Limpa Palavras e Outros Poemas
"Casamento Perfumado", Popular
"Dar nomes às Flores", Bob Byerley
Queria certa donzela
de olfacto bem apurado
que o seu casamento fosse
de sempre o mais perfumado.
Seu nome era Rosa Branca
Cravo Vermelho seu noivo
madrinha, D. Açucena,
padrinho, o senhor D. Goivo.
Sua grinalda enfeitou
com folhas de laranjeira
e na sua mão levou
um ramo de erva cidreira.
Seus pagens, os manjericos;
Violetas, as suas aias,
seu pai, o senhor Junquilho
Madre Silva em lindas saias.
Veio dizer a cozinheira
que ia tudo perfumar:
“trago salsa e hortelã
para pôr no seu jantar.
Que belo aroma dão
a canela e o coco
para perfumar os bolos
eu vou juntar vinho do Porto.
A bela erva-luísa
veio para servir o chá
como é toda perfumada
que belo jeito me dá.
Diga-me lá, D. Rosa,
se mais perfumes deseja.
Haverá um casamento
Que mais perfumado seja?”
Popular
de olfacto bem apurado
que o seu casamento fosse
de sempre o mais perfumado.
Seu nome era Rosa Branca
Cravo Vermelho seu noivo
madrinha, D. Açucena,
padrinho, o senhor D. Goivo.
Sua grinalda enfeitou
com folhas de laranjeira
e na sua mão levou
um ramo de erva cidreira.
Seus pagens, os manjericos;
Violetas, as suas aias,
seu pai, o senhor Junquilho
Madre Silva em lindas saias.
Veio dizer a cozinheira
que ia tudo perfumar:
“trago salsa e hortelã
para pôr no seu jantar.
Que belo aroma dão
a canela e o coco
para perfumar os bolos
eu vou juntar vinho do Porto.
A bela erva-luísa
veio para servir o chá
como é toda perfumada
que belo jeito me dá.
Diga-me lá, D. Rosa,
se mais perfumes deseja.
Haverá um casamento
Que mais perfumado seja?”
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