"Conspiração Nocturna no Jardim do Duque da Terceira", Carlos Carreiro, 2006
Com que então caiu na asneira De fazer na quinta-feira Vinte e seis anos! Que tolo! Ainda se os desfizesse... Mas fazê-los não parece De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse Que fez a mesma tolice Aqui o ano passado... Agora o que vem, aposto, Como lhe tomou o gosto, Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal; porque os anos Que nos trazem? Desenganos Que fazem a gente velho: Faça outra coisa; que em suma Não fazer coisa nenhuma, Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa! Olhe que a gente começa Às vezes por brincadeira, Mas depois se se habitua, Já não tem vontade sua, E fá-los queira ou não queira!
Starry, starry night. Paint your palette blue and grey, Look out on a summer's day, With eyes that know the darkness in my soul. Shadows on the hills, Sketch the trees and the daffodils, Catch the breeze and the winter chills, In colors on the snowy linen land.
Now I understand what you tried to say to me, How you suffered for your sanity, How you tried to set them free. They would not listen, they did not know how. Perhaps they'll listen now.
Starry, starry night. Flaming flowers that brightly blaze, Swirling clouds in violet haze, Reflect in Vincent's eyes of china blue. Colors changing hue, morning field of amber grain, Weathered faces lined in pain, Are soothed beneath the artist's loving hand.
Now I understand what you tried to say to me, How you suffered for your sanity, How you tried to set them free. They would not listen, they did not know how. Perhaps they'll listen now.
For they could not love you, But still your love was true. And when no hope was left in sight On that starry, starry night, You took your life, as lovers often do. But I could have told you, Vincent, This world was never meant for one As beautiful as you.
Starry, starry night. Portraits hung in empty halls, Frameless head on nameless walls, With eyes that watch the world and can't forget. Like the strangers that you've met, The ragged men in the ragged clothes, The silver thorn of bloody rose, Lie crushed and broken on the virgin snow.
Now I think I know what you tried to say to me, How you suffered for your sanity, How you tried to set them free. They would not listen, they're not listening still. Perhaps they never will...
Quando a pintura genial emociona uma alma sensível...
I don't mind where you come from As long as you come to me I don't like illusions I can't see Them clearly
I don't care no I wouldn't dare To fix the twist in you You've shown me eventually What you'll do
I don't mind... I don't care... As long as you're here
Go ahead tell me you'll leave again You'll just come back running Holding your scarred heart in hand It's all the same And I'll take you for who you are If you take me for everything Do it all over again It's all the same
Hours slide and days go by Till you decide to come
However long you stay Is all that I am I don't mind... I don't care... As long as you're here
Go ahead tell me you'll leave again You'll just come back running Holding your scarred heart in hand It's all the same And I'll take you for who you are If you take me for everything Do it all over again It's always the same
Go ahead say it you're leaving You'll just come back running Holding your scarred heart in hand It's all the same And I'll take you for who you are If you take me for everything Do it all over again It's all the same
Tenho fases, como a lua fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso.
E toda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...
Limpo palavras. Recolho-as à noite, por todo o lado: a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor. Trato delas durante o dia enquanto sonho acordado. A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras precisam de ser limpas e acariciadas: a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar. Algumas têm mesmo de ser lavadas, é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias e do mau uso. Muitas chegam doentes, outras simplesmente gastas, estafadas, dobradas pelo peso das coisas que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra. A palavra rosa espalha o perfume no ar. A palavra árvore tem folhas, ramos altos. Podes descansar à sombra dela. A palavra gato espeta as unhas no tapete. A palavra pássaro abre as asas para voar. A palavra coração não pára de bater. Ouve-se a palavra canção. A palavra vento levanta os papéis no ar e é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo voltam os olhos para a luz e vão longe, leves palavras voadoras sem nada que as prenda à terra outra vez nascidas pela minha mão: a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me. As outras, não. A palavra adeus despede-se. As outras já lá vão, belas palavras lisas e lavadas como seixos do rio: a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer, de mais palavras e de novos sentidos. Basta estenderes um braço para apanhares A palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras. A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra. Recolho-as à noite, trato delas durante o dia. A palavra fogão cozinha o meu jantar. A palavra brisa refresca-me. A palavra solidão faz-me companhia.
Álvaro Magalhães, O Limpa Palavras e Outros Poemas
Recomeça... Se puderes, Sem angústia e sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado, Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar E vendo, Acordado, O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Obra Poética
*Sísifo: filho de Éolo e Rei de Corinto, temido pelas suas crueldades e rapinas. Foi condenado, depois de morrer, a rolar nos infernos uma pedra enorme até ao alto de uma montanha, donde ela tornava a cair eternamente.
Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Ler é maçada, estudar é nada. O sol doira a literatura. O rio corre bem ou mal, sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma. Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol que peca Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças, Nem consta que tivesse biblioteca...
Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes os tristes, tão fora d’esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
Este inferno de amar – como eu amo!- Quem mo pôs aqui n’alma...quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que é a vida - e que a vida destrói- Como é que se veio a atear, Quando – ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado, A outra vida que dantes vivi Era um sonho talvez... – foi um sonho – Em que paz tão serena a dormi! Oh! que doce era aquele olhar... Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra um dia formoso. Eu passei...dava o Sol tanta luz! E os meus olhos, que vagos giravam, Em seus olhos ardentes os pus. Que fez ela? eu que fiz? – não no sei: Mas nessa hora a viver comecei...